Contorno, Desvio, Permanência

Performance realizada em diálogo com a exposição Corpo-Trajeto, de João Trevisan, no Instituto Adelina, e curadoria de Mario Gioia. Esse experimento desdobra uma questão central em meus trabalhos, que pensam como coreografia a relação entre obra e olhar do espectador. As obras de Trevisan funcionaram como disparadores para a elaboração dos movimentos que colocam em cena conceitos também presentes em minha pesquisa em dança contemporânea: matéria, contraste, oposição, peso, leveza, articulação, equilíbrio, tensão.
Performance, 2019
duração 40” | trilha em streaming
[transcrição da conversa com o curador Mario Gioia sobre o processo de criação] ↓
[Mario] Me conte como foi fazer a trilha… o processo, o resultado final etc. e também como foi a logística do fone… [Isis] então… sobre a trilha, fiz uma junção de ruídos com alguns sons mais fluidos que as vezes são disparadores para algum movimento, ou atribuem um estado de presença, um estado corporal… Usei algumas vibrações sonoras que costumo trabalhar em outras ocasiões para trazer esse ‘estado corporal’ de que falo, pois fazia sentido pra mim, ao entrar em contato com sua produção. Algo que reverberasse um tanto do som “do fazer” do João, por isso gravar o ambiente nos dias da montagem, por exemplo. Esses foram os fragmentos que usei de fundo pra sobrepor o som/ a música/ o ruído… mas também pra me ajudar a dar um tempo limite, ou tempo de transição, para toda a ação… como se fossem marcações pra controlar um pouco o tempo da performance.De todo modo, não estava fazendo sentido deixar o som ambiente, teria muita cara de “espetáculo” e não queria isso na galeria… pensando a própria especificidade do espaço, o silêncio também era um elemento que queria explorar, a ideia de um lugar no qual a gente percorre com gestos mínimos e silenciosos… Por fim, o fone tinha um diálogo tanto com o vídeo do João, quanto com algumas experiências em composição e criação de trabalhos que fiz e participei em dança… essa ideia de trazer atenção pra si, quase uma meditação… uma concentração da ordem da meditação que separa de forma invisível desse “outro” lá fora.
A escolha por deixar a trilha em streaming era pra que as pessoas pudessem entrar na trilha, ouvir junto comigo o que eu estava ouvindo se elas quisessem… mas também optar por ouvir o som da sala, da respiração, dos movimentos ou do próprio silencio… podendo o espectador fazer sua escolha… se eu deixasse apenas um link, perderia a sincronia… com o streaming eu garantia que a qualquer momento que cada um conectasse, estaria na mesma frequência que eu.