Projeto Museu mise-en-scène
“Como espaço funcional dedicado à arte, tradicionalmente, o museu é feito para mostrar e não para ser visto. Se a exuberância do edifício e da paisagem é parte dos atrativos que chamam o grande público, as condições ideais de visualização das obras exigem uma modulação delicada dos elementos arquitetônicos, dos recursos expográficos e das diretrizes institucionais. É preciso filtrar a luz, evitar reflexos, esmaecer a paisagem; é preciso otimizar os trajetos, oferecer mapas, interditar passagens; é preciso orientar o corpo, demarcar pontos de vista, impor certas distâncias. É necessário gerir a missão ambígua de atrair grandes públicos e resguardar as obras. Por fim, é fundamental silenciar traumas acumulados por políticas culturais colonialistas e eurocêntricas para que uma história da arte ocidental seja contada de modo fluido e apaziguado.
Um passo para o lado, uma mudança de ponto de vista, uma intervenção na luz são suficientes para perturbar essa ordem. Com isso, as sombras e os reflexos se revelam na sua condição de sintomas recalcados, e reivindicam sua própria plasticidade. A arquitetura e a paisagem rivalizam com as obras, os dispositivos museológicos se explicitam, a distância entre os visitantes e os personagens históricos é perturbada e suas poses se confundem. Num espaço em que a circulação do corpo e dos significados da arte tendem a ser bastante controlados, esses são gestos de uma resistência que pode começar com um discreto deslocamento do olhar.”