Diáfano: sobre a materialidade da luz e a opacidade dos dispositivos museológicos



Apresentado no Seminário Da percepção à palavra: luz e cor na História da Arte

e publicado nas atas do XI Encontro de História da Arte – Unicamp

 

Diáfano: sobre a materialidade da luz e a opacidade dos dispositivos museológicos.

[resumo da comunicação]

 

Dentro do museu, a luz natural é redesenhada por dispositivos que visam garantir a visibilidade da obra de arte, mas que também impõem certas condições ao olhar dos espectadores. Essa é a questão teórica de que parte esta reflexão e que se desdobra numa série fotográfica a ser apresentada como parte integrante da pesquisa.

Por mais que o museu pareça hoje o lugar natural para abrigar uma obra de arte, cabe observar que nem sempre as imagens foram produzidas para serem colecionadas ou expostas. Esse espaço é uma construção histórica que se forma concomitantemente a uma ideia de que a arte tem como fim a contemplação de um grande público.

Muitos museus nasceram da adaptação de palácios e edifícios históricos, conservando sua arquitetura original como um dos patrimônios a serem exibidos. No entanto, nem todos os elementos do espaço respondem às condições ideais de visibilidade almejadas para as obras de arte. Pontualmente, esta pesquisa mapeia problemas no modo como as instituições se esforçam para lidar com os múltiplos papéis que as entradas de luz natural cumprem nesses edifícios: oferecer uma vista da paisagem a partir do próprio edifício, apresentar-se por si mesmas como elemento arquitetônico a ser contemplado e, por fim, como fonte de luz, compor os dispositivos museológicos que garantem a visibilidade da obra.

Os artifícios de controle da luz, os desejos de dar a ver uma arquitetura, uma paisagem e um acervo de arte, os conflitos entre uma história prévia do espaço e a nova função cultural que adquire, tudo isso pode ser o ponto de partida para desconstruir a suposta naturalidade do museu como lugar para a arte e, ainda, para pensar o modo como esse espaço impõe ao público um comportamento e um lugar de contemplação.

A série fotográfica Diáfano, que apresento como parte de minha pesquisa em poéticas visuais, propõe um olhar deslocado dessa posição ideal, buscando exatamente os lugares onde os conflitos se manifestam, onde a dissimulação dos elementos arquitetônicos transparece, e onde a luz impõe o seu próprio desenho.

 

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* Algumas imagens que são parte da obra Diáfano, um conjunto de fotografias e vídeos que desdobram a mesma pesquisa, também foram apresentadas na mesma ocasião.