Revista OLD | Diáfano, Portfolio


[OLD n. 51, 2015] Portfólio acompanhado de entrevista sobre a obra ‘Diáfano’ publicado pela revista old.

ISIS GASPARINI

Diáfano

Isis produziu a série Diáfano durante uma residência de
seis meses na Cité Internationale des Arts, em Paris. A
série explora a ambiguidade na construção das mostras
em alguns dos principais museus da capital francesa. Há
um constante jogo entre mostrar e esconder, construir um
acervo visível que se adéque a questões políticas e ideoló-
gicas de cada uma dessas casas. Assim Diáfano revela e es-
conde obras que fotografa e discute o papel da luz nesse
processo, a transformando em um objeto ativo, construtor
da narrativa visual desta série.

DSC00885

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Isis, como surgiu seu interesse pela fotografia?

Sou encantada por história e pelo passado. Olhar fotos P&B, descobrir câmeras e traquitanas antigas, estudar arte e cinema são interesses que se cruzam em algum momento e apontam para o desejo de investigar a fotografia. Desde a infância, tinha também um fascínio pelo retrato, que se manifestava na pintura, algo que me dediquei muitos e muitos anos. Um pouco antes de começar a graduação em artes, resolvi fazer um primeiro curso de fotografia. Meu pai tinha uma câmera analógica que já estava parada havia muito tempo, e mais alguns slides, negativos velhos e um carrossel… Aquilo me encantava.

Nos conte sobre a produção de Diáfano.

Diáfano foi realizado em 2014, quando participei do programa de Residência Artística da Cité Internationale des Arts em Paris (com apoio da FAAP).

Estava bastante interessada nos antigos palácios que se converteram em museus. Para mim, esses lugares carregam uma ambigüidade: às vezes, eles demonstram sua preocupação com um “tornar visível” um patrimônio e, outras vezes, demarcam suas decisões institucionais, seja ao realizar uma política cultural supostamente inclusiva, ou seja pela escolha mediada por questões políticas econômica.

Na ocasião eu freqüentava diariamente museus e outros espaços expositivos e, nessas visitas, o modo como as instituições se esforçam para lidar com a entrada de luz natural x artificial, passou a me chamar atenção. Foi então que comecei a coletar imagens dos lugares em que a luz impunha seu desenho.

A luz e a sombra são presenças quase sólidas nesta série, não só de contraste. Como se deu essa construção estética?

Encontrar as luzes e seus respectivos problemas no que diz respeito à visibilidade da obra de arte no espaço expositivo foi, de fato, o que motivou a realização desse trabalho. Passei a percorrer os museus me colocando em lugares menos “ideais”de contemplação buscando ruídos provocados pela luz. As imagens foram muito pouco tratadas e pós-produzidas (ao contrario do que ocorre em um trabalho anterior “Ter à distancia”, em que a intervenção nas imagens é mais evidente). Sendo assim, a construção estética se deu pela edição e seleção das imagens que entrariam no recorte final, mais do que por um desenho prévio do que poderia vir a ser o trabalho.

Quais os desafios e metas desta narrativa construída através de espaços e objetos?

Me parece ser: achar a medida entre o sensível e o reflexivo, o literal e o poético, isso é sempre um desafio. Aqui, como em outros trabalhos, uma pesquisa teórica caminha junto à produção das imagens, o que gera a preocupação em apontar algumas questões que sejam acessíveis ao público, ainda que não fiquem completamente demarcadas. Ao escolher esse tipo de espaço e a própria luz como ponto de partida, foi importante evidenciar sua materialidade, mas depois disso, certamente, as leituras extrapolam a intenção que eu tinha no momento de realizá-las… eu espero.

Como você busca ressignificar os objetos tão carregados de história que você fotografa nesta série?

Acho que talvez o maior desafio esteja aqui! Como reordenar ou recombinar as imagens que existem no mundo? Como uma “boa” acumuladora de imagens e histórias, me vejo constantemente no exercício de ressignificá-las. Muitas vezes as próprias imagens que acumulo no meu arquivo parecem apontar caminhos para que possam coexistir de uma outra forma dentro de um mesmo trabalho. Em outros momentos, sinto que chego com uma pergunta específica para então gastar um certo tempo tentando encontrar a resposta… ou muitas delas.

 

OLD_51_pages_Isis